sexta-feira, 8 de maio de 2009

Namorado/a

Quem não tem namorada/o é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo.

Namorar é a mais difícil das conquistas.

Difícil porque namorada/o de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrimas, nuvem, quindim, brasa ou filosofia.

Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é difícil, mas namorada mesmo, é muito difícil.

Não precisa ser a/o mais bonita/o, mas ser aquela/e quem se quer proteger e quando se chega perto dela/e treme, sua frio e quase desmaia pedindo protecção.

A protecção dela/e não precisa ser parrida, decidida ou bandoleira: Basta um olhar de compreensão ou mesmo de afeição.

Quem não tem namorada/o não é quem não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar.
Se você tem 3 pretendentes, 2 paqueras, 1 envolvimento e 2 amantes, mesmo assim pode não ter nenhuma namorada/o.

Não tem namorada/o quem não sabe o gosto de chuva, de cinema depois das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.

Quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete de lagartixa e quem ama sem alegria.

Não tem namorada/o quem não sabe o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora em que passa o filme, de flor caçada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius, Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada, de ânsia de viajar junto para a Escócia, Europa, Oriente ou mesmo de metro, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorada/o quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compra juntos, quem não gosta de falar do próprio amor, nem ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dela/e, abobados de alegria pela lucidez do amor.

Não tem namorada/o quem não descobre a criança própria e a da amada/o e sai com ela/e para parques,beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, luas de manhã ou musical da Metro.

Quem não tem música secreta com ela/e, quem não dedica livros, não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de o seu bem ser paquerada/o.

Quem ama sem gostar, quem gosta sem curtir, quem curte sem se aprofundar.

Quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou no meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais; quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações, quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele, quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz; quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afectivo/a.

Se você não tem namorada/o porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a calça mais leve, aquela jeans velha, passeie de mãos dadas com o ar.

Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com flores, com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração acelerado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.

Acorde com o gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.

Ponha intenções de quermesse em seus olhos.

Beba licor de contos de fadas.

Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases subtis e palavras de galanteria.

Se você não tem namorada/o é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.


adaptado de Carlos Drummond de Andrade


Reflexão pessoal: Quero definitivamente enlouquecer só um pouquinho para sentir a vida parar e sentir o meu coração ser correspondido.... Saudades dessa loucura! e acredita que dou valor a todas essas coisas, mas porque sou mulher e uma eterna apaixonada pela vida... e adoro sentir-me criança de novo... a correr na relva, a chapinar na água, dizer segredos ao ouvido, rir às gargalhadas no meio da rua, do cinema, do café, sei lá, onde estiver, passar horas a vê-lo dormir, sonhar com um sorriso, chorar de tanto rir, contar os minutos que faltam para o ver, comer gelado a dois, sentir o coração a um compasso só, dedicar frases, palavras e sonhos, "beber licor de contos de fadas"...
Ui tanta coisa... Eu quero é mesmo sentir-me e sentir a reciprocidade, a cumplicidade... Disso tenho mesmo muitas saudades.... :) Mas sorrio quando penso nisso! Significa que já vivi momentos de felicidade e quero voltar a senti-los... mas ainda estou a abrir o meu coração aos pouquinhos... abri uma brecha... e ....

Quem sabe ;)

Um sorriso retribuído já vale por mil palavras...

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